Momento mitopoéticoPublicado por Fernando Porto on 16 de fevereiro de 20213 de junho de 2021Era um sonhoNos mares da menteDe um barco era donoO leme à minha frenteNão sabia se meu postoEra de capitão ou tenente.A tripulação sem rostoTrabalhava mecanicamente,De repente um alvoroço:Uma tempestade à frenteUm pânico ao todoNum cenário demente.Eu grito em vãoA tripulação se revoltaAfinal, não és capitão?E agora te apavoras?Mostra-nos a direçãoPara o caminho de volta!Olho para a escuridão do céuProcuro o sol, meu guiaMas vejo um intransponível véuDe nuvens de camada fria.Ergo meus braços ao léuÀ procura de uma divina via.No céu nenhum sinalNo barco um motim se aproximaResta me um caminho anormalO fundo do mar que alucina.Abaixo me sobre a água afinalMeus olhos à procura da sina.De súbito, do fundo apareceuUm monstro de sete cabeçasTerrível criatura de MorfeuQue me encheu de incertezas.Mas meu coração percebeuSer esta a causa do mar em furor.Uma dúvida então me bateu:É possível uma luta sem dor?A intuição leva meu olhar à frenteFito imagem deslumbranteAlgo que emergiu de repenteÉ a dama dos navegantesDivina luz latenteInfinito amor em seu semblante.A formosa rainha me abençoouE do manto, retirouUma flamejante lançaO objeto sagrado me lançouQue agarro com confiançaUm raio, o meu corpo atravessouSinal da poderosa aliança!E ao investir sobre a horrenda feraA visão me encheu de desgostoEm cada cabeça se espelhaMinha face, meu próprio rosto!Que pior destino me esperaAo me ver como repugnante monstro?Com a lança de Eros investiFerindo cada cabeça infernalO fogo consumindo as facesPartes emersas de meu mal.E antes que elas contra-atacassemA luta chegara ao final.Após a vitória contra mimOcorreu o que se previa:A tripulação acabou o motimE a tempestade diminuíaO sol surgiu enfimCom seus raios de sabedoria.O mar bravio obedeceuOndas de ódios já não o tingem.Sorridente, a dama desapareceuE agradeço à bela virgemPela luta que me converteuAmor e paz me impingem.O barco navega em frentePor águas límpidas e suavesRumo ao sol poenteCercada de douradas aves.Eis o mistério da menteSimbolizado pelo que já sabes:A luta de um navegador valenteContra a fera de seus próprios mares.(Poesia publicada em meu livro “A Magia do Ser”, Ed.Scortecci) #poesia #mitologia #saúdemental*Fernando Porto Fernandes é psicanalista de abordagem junguiana e escritor. Trabalhou por 30 anos no jornalismo impresso, produzindo textos para jornais e revistas. Atualmente faz atendimento clínico e é autor do livro “Morte, Biografia Não Autorizada”, com o qual faz palestras sobre o tema “Pequenos e Grandes Lutos de Nossa Vida”. Contato pelo e-mail: [email protected]