Leia aqui o emocionante texto do psicanalista Fabiano Kruth Verdade, relatando sua experiência, junto com sua esposa, como pais de bebê prematuro
Somos todos prematuros até não sê-lo. É claro que a ruptura cronológica de um nascimento insere um divisor bruto no caminho natural idealizado pelos pais. Desde o início, do exame de gestação positiva à cada ultrassom, passo a passo, com toda a atenção e dedicação para que um momento tão especial, único, aconteça sob a naturalidade da vida, e de repente, se vê rasgado o caminho de todas expectativas com crueldade. Sua gestação acaba aqui.
As atenções migraram do chá de fraldas, lembrancinhas, álbum de fotos, visitas na maternidade e mimos para a sobrevivência, a força e fé, a dor e amor. Tudo ao mesmo tempo, sem preparação ou ensaio, a vida aparentemente frágil surge aos olhos dos pais inundando nossas almas com a prematuridade. Simples assim, não somos donos do tempo, não controlamos a vida e as coisas não acontecem conforme nossa vontade. Ser pai ou ser mãe tornou-se uma questão em aberto.
Não vou focar na experiência da dor, da aceitação, do caminho de amadurecimento de cada um – pulemos esta parte – você encontra ou encontrará dentro de si esta relação com a vida, seu pesar, seu respeito, suas escolhas e aprendizado. O que posso dizer é que estes prematuros são danados; que força, que poder! Lindo de ver.
O ponto que quero levantar é sobre a necessidade desta experiência: Por que nasce um bebê prematuro? O que a vida quer de nós? Penso que esta criança precisava ser vista para existir. Uma barriga linda, lisa e redonda agora expõe seu filho prematuro, aflito e carente. A luta entre a vida e a morte provoca e potencializa o desejo de ter um filho, agora descoberto. A luta se trava, convoca você a se posicionar. A prematuridade do seu filho joga na cara a sua própria prematuridade. Chegou a hora de crescer, de ser. Não se trata mais do romantismo da gestação ideal.
Talvez a grande lição da vida para os pais de prematuros seja simplesmente: aprender a amar.
Trishna, diz respeito à insaciabilidade dos desejos humanos, insaciabilidade esta que é o motivo principal do sofrimento humano. (Wikipedia) Podemos entender que a vida acontece como tem que ser e não cabe a nós julgar.
Fabiano Kruth Verdade é psicanalista junguiano do Instituto Humanae de Psicologia e Cultura